
As acções estão entre os instrumentos financeiros mais conhecidos e utilizados pelos investidores em todo o mundo. Representam, de forma simples, uma participação no capital de uma empresa. Neste artigo procuramos explicar o que são acções, como funcionam e o seu papel numa carteira diversificada.
O que são Acções?
Uma acção representa uma unidade de propriedade numa empresa. Quando adquire acções de uma empresa cotada em bolsa, torna-se accionista dessa empresa, ou seja, um dos seus proprietários. Esta condição confere-lhe direitos económicos (como o direito a receber dividendos) e, nalguns casos, direitos de voto (que podem ser exercidos nas assembleias de accionistas).
As empresas emitem acções para captar capital junto do público, nomeadamente, por via de um processo denominado de Oferta Pública Inicial (IPO), com o objectivo de financiar o crescimento da empresa, investir em novos projectos, pagar dívidas ou expandir operações.
Tipos de Acções
Existem diferentes categorias de acções, que se distinguem pelos direitos e características que conferem:
- Acções Ordinárias
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Conferem direito de voto em assembleias gerais;
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Possibilidade de receber dividendos (não garantidos);
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Participação proporcional em caso de liquidação da empresa.
- Acções Preferenciais
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Prioridade no pagamento de dividendos (geralmente fixos);
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Tendem a não conferir direitos de voto;
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Em caso de falência, têm prioridade sobre as acções ordinárias no reembolso do capital.
Como Funciona o Mercado de Acções?
O mercado de acções é o local onde as participações são compradas e vendidas, sendo geralmente divido em duas categorias:
- Mercado Primário: Emissão inicial de acções, como numa Oferta Pública Inicial (IPO). Os fundos captados vão directamente para a empresa emissora.
- Mercado Secundário: Negociação de acções já emitidas. A empresa não recebe capital nesta fase. As bolsas de valores, como a Euronext ou a NYSE, são os principais mercados secundários.
O preço de mercado de uma acção é influenciado por múltiplos factores, entre os quais:
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Resultados financeiros da empresa;
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Perspectivas de crescimento;
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Situação macroeconómica;
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Taxas de juro e inflação;
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Sentimento de mercado e acontecimentos inesperados (geopolítica, crises, pandemias, etc.)
Razões para Investir em Acções
Historicamente, o desempenho das acções superou o de outras classes de activos como as obrigações, o imobiliário ou os depósitos bancários, embora com maior volatilidade.
Figura 1 – Evolução de um índice global de acções (MSCI World Index), por comparação com um índice global de obrigações Investment Grade (Bloomberg Global Aggregate Total Return Index)
Fonte: Banco Invest, Bloomberg. Dados a 30-Mai-25.
Entre as principais razões para investir em acções destacamos:
- Potencial de Valorização: A valorização do capital (preço das acções) e os dividendos pagos podem gerar retornos significativos.
- Participação no Sucesso das Empresas: Investir em acções permite acompanhar o crescimento de empresas inovadoras e líderes de mercado.
- Liquidez: As acções cotadas tendem a apresentar alguma liquidez, podendo ser compradas ou vendidas de forma relativamente rápida e transparente.
- Diversificação: As acções permitem ganhar exposição a diferentes sectores, regiões geográficas e empresas de diferentes dimensões, permitindo assim diversificar o risco.
Riscos Associados ao Investimento em Acções
Apesar do seu potencial, o investimento em acções envolve alguns riscos entre os quais:
- Risco de Mercado: Variações na cotação das acções que resultam de oscilações que afectam o mercado como um todo em virtude de factores externos (e.g., recessões, alterações nas taxas de juro, ou eventos geopolíticos).
- Risco Específico da Empresa: Mau desempenho operacional, mudanças na liderança, problemas legais, entre outros, podem impactar negativamente a empresa. Este risco pode ser mitigado através da diversificação, investindo em várias empresas e sectores.
- Risco de Liquidez: Algumas acções (especialmente de empresas pequenas) podem ter menos compradores/vendedores, dificultando a transacção, sobretudo em períodos de maior instabilidade.
- Risco Político e Regulatório: Mudanças legislativas, impostos ou regulamentações podem impactar negativamente determinadas indústrias ou empresas.
- Risco Político e Regulatório: Para quem investe em empresas cotadas em moeda estrangeira, importa ter em conta a possibilidade da valorização ou desvalorização cambial surtir um efeito negativo nos retornos. Uma apreciação do euro face ao dólar, por exemplo, pode reduzir o valor dos ganhos de uma acção americana para um investidor europeu.
Como Avaliar Acções? Alguns Conceitos Fundamentais
Avaliar uma acção significa estimar o seu valor intrínseco, ou seja, determinar quanto vale realmente uma empresa com base nos seus fundamentos económicos e financeiros, independentemente do seu preço de mercado actual. Esta análise é essencial para distinguir as empresas com potencial de crescimento sustentável, por oposição às que se encontram sobrevalorizadas ou que podem enfrentar riscos significativos.
De seguida, destacamos alguns conceitos e indicadores utilizados na avaliação de acções:
- Lucro por Acção (EPS – Earnings Per Share): O Lucro por Acção é um indicador básico de rentabilidade. Representa o lucro líquido da empresa dividido pelo número de acções em circulação. Um EPS crescente ao longo do tempo pode evidenciar uma empresa lucrativa e potencialmente bem gerida.
- Price-to-Earnings (P/E Ratio): O rácio P/E compara o preço da acção com os seus lucros anuais por acção. É um dos indicadores mais usados para avaliar se uma acção está cara ou barata. Ao passo que um P/E elevado pode indicar expectativas de crescimento mais elevadas, mas também o risco de sobrevalorização, um P/E baixo pode sinalizar uma acção com desconto, mas também potenciais problemas no negócio.
- Dividend Yield: Este rácio mede o rendimento anual que o investidor obtém através de dividendos, em relação ao preço da acção.
- Price-to-Book (P/B Ratio): Compara o preço de mercado da acção com o seu valor contabilístico (valor dos activos líquidos por acção).
- Return on Equity (ROE): Este indicador mede a rentabilidade gerada sobre o capital investido pelos accionistas. Uma leitura mais elevada e obtida de forma recorrente pode constituir um sinal de eficiência na gestão dos recursos da empresa.
- Crescimento das Receitas e dos Lucros: Analisar a evolução histórica das receitas e dos lucros permite avaliar se a empresa se está a expandir de forma saudável. Empresas com crescimento consistente, mesmo em ciclos económicos adversos, tendem a ser mais resilientes e atractivas para o investidor de longo prazo. Não menos relevante, as margens operacionais e líquidas revelam a capacidade de gerar lucros a partir das receitas. Margens mais elevadas significam maior eficiência e pricing power, sobretudo em sectores competitivos.
- Endividamento: O nível de dívida influencia a capacidade de a empresa enfrentar choques económicos. Os seguintes indicadores podem assumir um papel relevante no contexto da análise da situação financeira de uma empresa:
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Debt-to-Equity (D/E): relação entre a dívida e o capital próprio;
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Cobertura de Juros (Interest Coverage Ratio): capacidade de pagar juros com os lucros operacionais.
- Vantagens Competitivas (“Moat”): Apesar de se tratar de um factor qualitativo, este aspecto pode ser determinante no sucesso a longo prazo de uma empresa, atendendo a que vantagens competitivas duradouras tendem a proporcionar retornos mais previsíveis e superiores ao mercado. Nesse sentido, importa identificar algumas das seguintes características:
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Inovação tecnológica;
- Marcas fortes;
- Custos baixos sustentáveis;
Como Investir? Estratégias de Investimento em Acções
Em função do perfil do investidor, a oferta do Banco Invest inclui diferentes formas de investir nesta classe de activos:
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Acções Individuais: Investimento directo numa selecção individual de acções, o que requer análise e acompanhamento constantes.
- Fundos de Acções: Investimento diversificado através da gestão profissional de uma carteira de acções.
- ETFs (Exchange Traded Funds): Fundos cotados em bolsa que, maioritariamente, replicam índices (e.g., S&P 500) de forma eficiente e com comissões baixas.
- Investimento Temático (Invest Trends): Conjuntos de fundos de investimento centrados em tendências de longo prazo como a tecnologia, saúde, sustentabilidade ou inteligência artificial.