
O primeiro trimestre do ano de 2025 ficou marcado por uma performance negativa do Fundo Invest Tendências Globais, com uma rendibilidade de -6,3%. Este valor compara com um retorno de -5,8% para o MSCI WORLD Total Return. Desde o início de actividade, em 30 de Junho de 2022, o Fundo obteve um retorno anualizado positivo de 14,4% vs 14,1% para o MSCI WORLD EUR Total Return, o que se traduz numa outperformance anualizada de 31 bp. É importante realçar que este desempenho foi obtido subindo um pouco menos que o mercado nos momentos positivos (0,96x) e caindo menos que este nos períodos negativos (0,94x).
Neste trimestre, a suportar o crescimento do Fundo estiveram a generalidade dos constituintes do mesmo, nomeadamente, empresas dos sectores de Tecnologia, Consumo Defensivo e Saúde. Entre os sectores com pior performance destacam-se Infraestruturas e Consumo Discricionário, cuja exposição é reduzida.
Importa ainda destacar o processo de investimento do Fundo, no sentido que o mesmo é a chave por detrás do seu desempenho. O Fundo tem uma perspectiva de longo prazo, assente numa rotação baixa da carteira, que deverá contar com níveis de concentração substanciais. Assim, o Fundo procura investir em empresas expostas a tendências estruturalmente atractivas a médio-longo prazo e que possuam:
- Elevadas rendibilidades sobre os capitais investidos (ROIC), obtidas de forma recorrente
- Vantagens competitivas altamente difíceis de replicar
- Alocação de capital eficiente
- Baixos níveis de endividamento
- Possibilidade de crescimento acima da média do sector em que se inserem
- Equipas de gestão com track record positivo
- Boas classificações ESG
Estes princípios que regem o processo de investimento, traduzem-se numa carteira com 32 constituintes e que apresenta as seguintes métricas vs o MSCI WORLD:
No trimestre que agora termina, o nível de rotação da carteira foi moderado. Em linha com o referido, foram vendidas as posições que o Fundo detinha na Brookfield Corporation, na Vinci, na Iberdrola e na Accenture. No primeiro caso esta decisão resultou de um desconto escasso de holding, ao passo que no que diz respeito as restantes empresas encontrámos outras posições do Fundo com um binómio avaliação/ crescimento mais interessante, pelo que optámos por concentrar. Foram constituídas novas posições na Booking e na Neurones, pelas razões que serão expostas de seguida.
Adicionalmente, uma vez que a Exor vendeu cerca de quarto por cento da sua participação na Ferrari de modo a recomprar acções próprias e investir numa possível nova posição, decidimos abrir uma pequena posição directa na empresa de modo a manter o mesmo nível de exposição à Ferrari que tínhamos anteriormente.
Principais Destaques na Carteira do Fundo
No último ano, a Booking apresentou um desempenho robusto, impulsionado, em parte, pela forte procura global por viagens. A equipa de gestão da empresa destacou, em particular, a aceleração das reservas ao longo do quarto trimestre. Em termos de outlook para o ano de 2025, a empresa acredita que a procura por viagens se manterá saudável, proporcionando um cenário favorável ao crescimento.
A Booking continua a destacar-se como a empresa melhor posicionada no segmento das reservas de viagens online, sendo que a sua quota de mercado ainda sugere um potencial significativo de crescimento. A empresa tem apostado em investimentos estratégicos (e.g., voos e soluções de pagamento) para diversificar a oferta para além do core business de hotéis e outras acomodações, contribuindo para a expansão futura. Embora o contexto macroeconómico possa vir a representar um desafio, até ao momento não há sinais de deterioração na procura por viagens. Não menos relevante, a posição sólida da empresa no mercado europeu revela-se uma vantagem competitiva. A região continua a apresentar algum crescimento no turismo, impulsionado pelas viagens internacionais e pelo regresso progressivo dos viajantes chineses.
Em termos operacionais, a empresa registou um aumento de 9% no número de noites reservadas no quarto trimestre, superando as estimativas. O crescimento foi expressivo em várias regiões, nomeadamente, na Europa e Ásia (low double digit), nos EUA (+10%) e no Resto do Mundo (+20%). Importa ainda sublinhar que o segmento de acomodações alternativas acelerou para um crescimento de 19% no número de noites reservadas, representando já 33% do total. O crescimento do lucro por acção (EPS) tem sido igualmente notável, suportado pelo forte crescimento orgânico, expansão de margem e um programa de recompra de acções agressivo. A título de exemplo, em 2024, o número total de acções foi reduzido em cerca de 7%.
Face ao exposto, considerando o potencial de crescimento da empresa e a posição relevante que detém, tal como a avaliação atractiva face ao registo histórico (o Forward P/E rondará as 20x, assumindo uma trajectória de crescimento que nos parece credível assumindo que não há uma recessão no futuro próximo), o Fundo optou por abrir uma pequena posição na Booking.
Com mais de 7.000 especialistas e clientes espalhados por diversos sectores, incluindo multinacionais de relevo como a AXA, BNP, L'Oréal ou LVMH, a Neurones é uma empresa francesa de serviços de IT, que tem vindo a consolidar a sua posição no sector de consultoria e serviços digitais, beneficiando da procura crescente por soluções relacionadas com a transformação digital, infraestruturas de IT e novas tecnologias.
Em 2024, as vendas da empresa registaram um crescimento sólido (+9,3%, dos quais 8,6% foram de crescimento orgânico), destacando-se face ao mercado francês de consultoria e serviços digitais, que avançou apenas 0,7%. O lucro líquido aumentou 7,8%, confirmando a capacidade da empresa de aliar crescimento e rentabilidade. Nos próximos anos, a Neurones espera beneficiar com tendências estruturais favoráveis, como a crescente adopção da Inteligência Artificial, cloud ou cibersegurança.
Historicamente, o sector de serviços de IT em França tem crescido duas a três vezes mais rápido do que o PIB, o que se justifica pela forte dependência das economias desenvolvidas em relação ao sector de serviços. Desde a sua fundação em 1985, a empresa tem demonstrado uma resiliência notável ao registar crescimento positivo em todos os exercícios, superando consistentemente o mercado, inclusive em períodos de desaceleração económica.
Entre os factores diferenciadores da Neurones, destacam-se a estrutura descentralizada e posicionamento competitivo face a grandes empresas do sector. Muitos clientes e potenciais empregados valorizam a agilidade e envolvimento das equipas de empresas de menor dimensão. Esta abordagem tem permitido à empresa competir eficazmente e reforçar a sua posição no mercado. Dado o forte crescimento, o balanço com mais de 319,5 milhões de EUR de caixa líquida (equivalentes a 13€/acção) e quota de mercado actual pouco acima de 2%, a empresa pode manter uma trajectória de crescimento. Face à qualidade do modelo de negócio e níveis de avaliação actuais, o Fundo abriu uma posição na Neurones.
Os maiores contribuidores e detractores para a performance do Fundo durante o último trimestre:
Principais Detractores:
Principais Contribuidores:
No que diz respeito aos principais contribuidores do Fundo no último trimestre, destacamos a performance das seguintes acções: Berkshire Hathway, O’Reilly Automotive, Linde, Essilor Luxottica e Visa.
Durante o trimestre que passou, como consequência das tarifas anunciadas por Donald Trump, o mercado bolsista apresentou um movimento de risk-off nos EUA. Isto levou a que acções consideradas como “defensivas” tenham feito melhor. Como já referido no passado a lógica do Fundo não é de trading mas sim de investimento portanto tais categorizações não são consideradas na estratégia de investimento.
Na nossa perspectiva nada de muito substancial explica a outperformance da Berkshire ou da O’Reilly, pelo que no caso desta última começámos a reduzir a exposição. Quanto à Linde, mais não se tratou de uma recuperação da queda verificada aquando das eleições norte-americanas.
No que concerne à Essilor reduzimos também a exposição pois consideramos que a valorização da empresa se tornou exigente. No que concerne à Visa o mercado recompensou o seu perfil de negócio defensivo.
Pela negativa, no último trimestre, pesaram na performance do fundo os seguintes detractores: Microsoft, Amazon, Alphabet, LVMH e Salesforce.
A underperformance das acções tecnologicas tem que ver com dois factores: o referido movimento de risk-off e a consciencialização de que o AI pode levar a investimentos pesados cujo retorno é ainda incerto. Relativamente a este ponto, importa referir que este é um tema que monitorizamos, nomeadamente o aumento das despesas de capital das empresas onde o Fundo investe. No entanto, importa referir que, em periodos muito longos o custo computacional tende a decair assim como os sistemas de incentivos remuneratórios destas empresas levam a que tarde ou cedo algum eventual sobreinvestimento venha a ser corrigido.
Em geral, tratam-se de acções cujos negócios possuem vantagens competitivas sustentadas pelo que mantivemos as posições que detínhamos na totalidade, com a excepção da Salesforce. No caso desta, no início do ano reduzimos a exposição pois considerámos que a avaliação era algo exigente.
Quanto à LVMH, após um início de ano positivo nas palavras de Bernard Arnault, o mercado desconta algum abrandamento da actividade, nomeadamente, nos EUA devido ao deteriorar da confiança dos consumidores por causa das tarifas. Este facto, associado a uma economia chinesa ainda pressionada pela crise imobiliária levou a alguma pressão na cotação. Na nossa perspectiva, a posição relativa da empresa no sector mantém se, tal como o seu balanço forte e negócios fortes como a Louis Vuitton, a Loro Piana ou a Sephora, pelo que mantemos a exposição.