
Enquanto uma das principais referências do mercado accionista a nível mundial, o S&P-500 reflecte não apenas a evolução das maiores empresas norte-americanas, mas também o apetite global pelo risco. Para avaliar se o índice se encontra “caro”, um dos indicadores mais utilizados é o rácio Price-to-Earnings (PER), que compara o valor de mercado com os lucros das empresas. Embora à primeira vista pareça um indicador relativamente simples, este rácio tem revelado, historicamente, uma correlação significativa com os retornos prospectivos do mercado.
Desde 1990, a análise do comportamento do S&P-500 revela que o ponto de partida em termos de avaliação tem impacto directo na rendibilidade futura. Quando o preço ultrapassa em 23x os lucros, o retorno médio nos 12 meses seguintes tende a cifrar-se em cerca de 4,9%. Em contrapartida, a média global, considerando todos os períodos de mercado ao longo dos últimos 35 anos, ronda os 9,9%. Em termos práticos, investir quando as avaliações são mais exigentes resultou, em média, em ganhos praticamente reduzidos a metade face ao padrão histórico.
Figura 1 – Evolução do Índice S&P-500 (1990 – 2025)
Fonte: Bloomberg, Banco Invest.
Este fenómeno pode ser explicado por diversos factores. Em primeiro lugar, múltiplos elevados traduzem expectativas optimistas relativamente ao crescimento dos lucros, o que deixa uma margem reduzida para surpresas positivas. Não menos relevante, períodos de valorização acentuada tendem a anteceder fases de consolidação, em que o mercado digere os ganhos acumulados e a rendibilidade futura se mostra mais moderada. Além do referido, avaliações demasiado elevadas tornam o mercado mais vulnerável a choques externos, como alterações nas taxas de juro, revisões em baixa das perspectivas de crescimento ou eventos macroeconómicos inesperados.
Naturalmente, importa sublinhar que estes números reflectem dados históricos, não constituindo previsões determinísticas. Houve momentos em que o S&P-500 registou subidas expressivas apesar de múltiplos já historicamente elevados, como sucedeu no final dos anos 1990, durante a bolha dot com, ou mais recentemente, no período de liquidez abundante observado após a pandemia.
Ainda assim, a história sugere que, em média, o investidor que entra no mercado em fases de valorização mais exuberantes deve adoptar expectativas mais realistas no curto prazo. Não se trata de um sinal de saída, mas antes de um alerta para a importância da gestão das expectativas. Um PER acima de 23x não significa que o mercado vá necessariamente corrigir, mas sugere que o retorno potencial no horizonte de 12 meses tende a ser mais contido do que o observado em fases de avaliações mais equilibradas. Para quem investe, este cenário requer maior prudência, maior selectividade e, sobretudo, a consciência de que a margem de segurança diminui à medida que os múltiplos sobem.
Face ao exposto, é possível inferir que as avaliações importam e reconhecer esta realidade não significa tentar prever correções imediatas, mas antes compreender que, quanto mais alto o ponto de partida, mais contidas tendem a ser as recompensas no curto prazo.