Defesa, Infraestrutura e Transição Energética: Os Catalisadores da Indústria Europeia

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Num contexto marcado pelo anúncio de vários investimentos públicos em infraestruturas, defesa e transição energética, o sector industrial europeu assume um papel central nos mercados financeiros, combinando exposição cíclica com temas estruturais de longo prazo.

 

Investimento em Defesa

2025 está a ser um ano marcante para a Europa. A pressão dos Estados Unidos, liderados por Donald Trump, sobre os aliados europeus da NATO, para aumentarem os seus gastos em defesa, surge como um catalisador importante para o sector de defesa europeu. O presidente dos Estados Unidos criticou abertamente os países europeus que não cumprem a meta de 2% do PIB em defesa (meta estabelecida pela NATO) e afirmou que, em caso de ataque, os Estados Unidos poderiam não defender os países incumpridores, gerando forte instabilidade diplomática e acelerando o debate interno na Europa acerca da autonomia estratégica europeia.

À medida que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia se prolonga, aproximando-se dos quatro anos, sem sinal de resolução à vista, e com a ameaça dos Estados Unidos se retirarem da NATO, a Europa começa a tomar decisões em torno de uma estrutura de defesa mais robusta e coordenada: a Alemanha, historicamente relutante em aumentar a despesa militar, anunciou a criação de um fundo especial de defesa, totalizando os 100 mil milhões de euros, pretendendo atingir (ou ultrapassar) a meta do PIB em defesa em 2025. A França, Polónia, Países Baixos e países bálticos reforçaram igualmente os seus orçamentos de defesa. Outros sectores, como a tecnologia e cibersegurança, também beneficiam de forte investimento, nomeadamente a tecnologia dual-use (focada em drones, inteligência artificial, robótica, vigilância e comunicações seguras, entre outros).

Nesse sentido, a indústria de defesa europeia tem sido uma das maiores beneficiárias deste novo ciclo de despesa, com empresas como a Rheinmetall, Leonardo, Thales, Saav e BAE Systems a registarem forte crescimento de encomendas e valorização em bolsa.

 

Investimento em Infraestrutura

De igual forma, o sector das infraestruturas também constitui um dos sectores de maior relevância na actualidade, recebendo mais atenção do que recebeu nas últimas duas décadas, usufruindo de um aumento do investimento público:

 

 Estimativas do Investimento Público em Infraestruturas em % do PIB (2022–2025) 

Fonte: Banco Invest. Comissão Europeia (Spring Forecast 2025). Ministério das Finanças (Alemanha, França e Espanha). Estimativas baseadas na proporção média da despesa pública dedicada a infraestrutura em cada país.

 

Um exemplo deste facto é o Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal), uma estratégia por parte da União Europeia iniciada em 2019 com o objetivo de eliminar as emissões líquidas de gases de efeito de estufa até 2050, descarbonizando a economia europeia. Este plano inclui medidas não só no sector energético, mas também no sector de transportes, industrial, financeiro e da agricultura. O Green Deal não é, portanto, exclusivamente um plano climático, mas também um plano industrial, que engloba investimentos em massa em energias renováveis, no reforço de redes elétricas e em infraestruturas de distribuição, conversão de indústrias e edifícios para tecnologias de baixo carbono e infraestruturas de carregamento para veículos elétricos. Só no fortalecimento das cadeias de abastecimento (armazéns e centros logísticos) estima-se um investimento até aos €20 mil milhões até 2029. Os investimentos estendem-se também à digitalização, automatização e robotização industrial. Para além da iniciativa do Green Deal, todos os sectores de investimento mencionados podem ainda contar com a liderança da Alemanha, com um fundo de €500 mil milhões até 2027. Este fluxo de investimento cria oportunidades diretas para empresas ligadas à construção pesada, engenharia, sistemas energéticos e logísticos.

 

Métricas de Avaliação

Independentemente do foco e investimento acrescido ter estado no sector de Information Technology, a um nível global, o sector de Industrials europeu tem vindo a crescer de forma sustentada nos últimos cinco anos, com um crescimento anualizado de 16,82% (MSCI Europe Industrials Index):

Desempenho do Índice MSCI Europe Industrials (últimos 5 anos)

Fonte: Banco Invest. Bloomberg. Dados até 17 de Julho de 2025. Base 100€.

Apesar de o actual preço do índice resultar num rácio price-to-earnings (P/E) alto, o mesmo encontra-se abaixo da média dos últimos 5 anos, nas 24X (vs. a média de 24,30X), sendo necessário ter em conta o impacto da pandemia no múltiplo em 2021):

 

Rácio price-to-earnings do Índice MSCI Europe Industrials vs. Média

Fonte: Banco Invest. Bloomberg. Dados até 17 de Julho de 2025.

 

Se considerarmos que os earnings-per-share (EPS) estimados (forward 12 meses) se encontram igualmente a crescer de forma sustentada, o actual preço do sector pode estar justificado, tal como (consequentemente) o múltiplo P/E elevado:

 

Desempenho do Índice MSCI Europe Industrials vs. Earnings-per-share (forward 12M)

Fonte: Banco Invest. Bloomberg. Dados até 17 de Julho de 2025. Base 100€.

 

Para além dos resultados crescentes, o sector de Industrials tem vindo a registar uma outperformance face ao índice MSCI Europe consistentemente nos últimos cinco anos, gerando um retorno superior comparativamente ao índice, o que, considerando o investimento crescente no sector, poderá significar uma continuação da tendência actual:

Desempenho do Índice MSCI Europe vs. MSCI Europe Industrials

Fonte: Banco Invest. Bloomberg. Dados até 17 de Julho de 2025. Base 100€.

 

Conclusão

O sector de Industrials europeu regista uma tendência positiva nos últimos 5 anos, sustentada actualmente pelo forte investimento no segmento da defesa, de infraestruturas, transição energética e reindustrialização, tanto por pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como devido a diversas iniciativas pela União Europeia, como o Next Generation EU e o Pacto Ecológico Europeu. As empresas do sector industrial beneficiam igualmente de um backlog (carteira de encomendas) crescente (actualmente em máximos históricos) com contratos longos e margens crescentes. Em alguns subsectores o backlog representa mais de 2 anos de receitas futuras já contratadas. Em termos de valuations, o P/E encontra-se em linha com a média histórica, descontando uma trajetória ascendente dos lucros futuros, bem como o crescimento acima da média do mercado, o que tem justificado a outperformance do sector face à média do mercado. Neste contexto, apesar da recente valorização, o sector industrial, em particular o europeu, mantém-se uma boa oportunidade de investimento, a médio-longo prazo.

 

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