
Num cenário global marcado por tensões geopolíticas crescentes, riscos cibernéticos e desafios tecnológicos emergentes, os sectores da defesa e tecnologia têm vindo a afirmar-se como um dos pilares estratégicos da estabilidade internacional e uma área com potencial de investimento significativo. A intersecção entre segurança nacional, inovação e transformação digital criou um ecossistema dinâmico, onde empresas altamente especializadas desempenham um papel fulcral tanto na proteção de infraestruturas críticas como na definição do paradigma tecnológico das próximas décadas.
De acordo com o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), os gastos mundiais com defesa atingiram um valor recorde de cerca de 2 700 mil milhões de dólares em 2024, reflectindo aumentos significativos em praticamente todas as regiões do mundo. Só o investimento por parte de países da NATO representou mais de metade deste montante, num contexto em que as preocupações com a segurança colectiva e o reforço das capacidades dissuasoras têm sido ampliadas por diversos factores, nomeadamente, a guerra na Ucrânia, a crescente presença militar da China no Indo-Pacífico e a instabilidade no Médio Oriente.
Esta tendência de maior investimento deverá manter-se nos próximos anos, impulsionada por compromissos renovados com o aumento da despesa militar e a necessidade de modernização tecnológica das forças armadas. O pacote de investimento de 500 mil milhões de euros que a Alemanha espera aplicar em investimento público ao longo da próxima década reforça esta tendência, sendo que o montante referido deverá ser aplicado em áreas críticas como infraestruturas, transição energética, inovação tecnológica e defesa.
Por outro lado, importa referir que a nova era da defesa não se limita ao domínio físico, o que tem levado a um aumento da procura por soluções digitais. O Departamento de Defesa dos EUA, por exemplo, alocou mais de 17 mil milhões de dólares do seu orçamento de 2024 para iniciativas relacionadas com a inteligência artificial, cloud computing ou automação — um sinal claro do reposicionamento tecnológico em curso.
Neste contexto, as empresas do sector aeroespacial e de defesa — tradicionalmente associadas à produção de armamento, veículos militares e sistemas balísticos — estão cada vez mais orientadas para actividades de elevada intensidade tecnológica. A Lockheed Martin, por exemplo, está a investir fortemente nas áreas de defesa espacial e plataformas de comunicação seguras, enquanto a BAE Systems e a Thales têm vindo a expandir as suas operações no domínio da cibersegurança.
Importa, no entanto, sublinhar que o impacto da tecnologia se estende muito além do sector da defesa. A protecção de infraestruturas críticas — como redes elétricas, sistemas de transporte, telecomunicações ou data centers — tornou-se uma prioridade crescente para governos e empresas, particularmente face ao aumento de ataques cibernéticos e campanhas de desinformação. De acordo com o relatório “Cybersecurity Ventures”, estima-se que os danos económicos associados ao cibercrime ultrapassem os 10 000 mil milhões de dólares anuais até 2025, o que tem alimentado a procura por soluções avançadas de segurança digital, monitorização de redes e encriptação de dados.
O papel das empresas tecnológicas neste ecossistema híbrido é, assim, cada vez mais central. Dos grandes conglomerados às startups especializadas em sensores, big data ou IA militar, existe uma cadeia de valor em rápida expansão, caracterizada por forte capacidade de inovação e um perfil de receitas tendencialmente menos cíclico. De notar ainda que muitos destes desenvolvimentos tecnológicos têm aplicações dual-use, ou seja, tanto civis como militares, ampliando o espectro de oportunidades de monetização e diversificação.
Do ponto de vista do investimento, os sectores da defesa e da tecnologia apresentam um conjunto de atributos diferenciadores: exposição a drivers estruturais (geopolítica, digitalização, automação), visibilidade de receitas com contratos de longo prazo e uma barreira significativa à entrada devido à regulação, certificação e exigência tecnológica. Apesar de suscetível a ciclos orçamentais e riscos reputacionais, trata-se de um segmento com crescente atratividade para investidores institucionais, nomeadamente, no actual contexto de reorganização das cadeias de fornecimento e reforço das capacidades industriais estratégicas dentro das economias ocidentais.
A título ilustrativo, nos últimos anos os índices MSCI World Aerospace & Defense e MSCI World Information Technology registaram uma performance acima da média dos índices globais.
Figura 1 – Evolução dos índices MSCI World Aerospace & Defense e MSCI World Information Technology, por comparação com o MSCI World Index (2020-2025)
Fonte: Banco Invest, Bloomberg. Dados a 30-Abr-25.
Adicionalmente, os fundos temáticos ligados à cibersegurança, defesa ou tecnologia têm vindo a atrair fluxos crescentes de capital, sobretudo de investidores com horizontes de longo prazo.
Conclusão
Como consequência da expansão dos orçamentos públicos, necessidades crescentes de modernização e um panorama tecnológico em permanente evolução, os sectores da defesa e tecnologia apresentam fundamentos sólidos para se posicionarem entres as áreas mais dinâmicas, que vão marcar a próxima década. Como tal, para investidores atentos às grandes transformações globais, estes sectores podem constituir uma oportunidade interessante, não só numa perspectiva de retorno financeiro, mas também de participação activa no processo de inovação tecnológica.