
Ao longo de 2025, o Fundo Monetário Internacional (FMI) tem revisto as suas projeções para a economia global, refletindo a crescente complexidade do contexto macroeconómico. Desde o início do ano, o World Economic Outlook (WEO) foi atualizado três vezes: em Janeiro, em Abril e, mais recentemente, a 29 de Julho.
A primeira revisão do ano, em Janeiro, manteve uma perspetiva de crescimento relativamente estável, com o PIB global estimado em 3,3% para 2025, em linha com a projeção publicada em Outubro de 2024. No entanto, a edição de Abril introduziu um tom mais cauteloso, revendo esse valor em baixa para 2,8%, à medida que as tensões comerciais e a incerteza em torno da política monetária e fiscal nas principais economias aumentavam.
A mais recente revisão, publicada em Julho, mostra uma inversão nesta tendência, com o FMI a rever o crescimento global em alta (para 3,0% em 2025 e 3,1% em 2026). Esta revisão positiva é atribuída a uma combinação de factores temporários, como a antecipação de exportações face à imposição de novas tarifas (apesar de as mesmas se encontrarem em níveis extremamente elevados, entre os mais elevados das últimas décadas) e incentivos ou estímulos adicionais em grandes economias, incluindo os Estados Unidos, a China e a Alemanha. Ainda assim, o FMI alerta que este dinamismo poderá ser transitório, insistindo na importância de políticas económicas previsíveis e coordenadas.
Apesar da revisão em alta, os riscos para as perspetivas mantêm-se predominantemente significativos, tal como em Abril, principalmente devido à manutenção de tarifas elevadas sem acordos estruturais, que poderão resultar num crescimento mais modesto da economia.
Relativamente à inflação global, esta é esperada desacelerar em 2025, para 4,2%, e em 2026, para 3,6%, em linha com as projecções anteriores.
Nos Estados Unidos, a inflação continuará acima da meta, atendendo à transferência dos custos das tarifas diretamente para os consumidores. A previsão do crescimento do país foi revista ligeiramente em alta para 1,9% em 2025 e 2,0% em 2026, maioritariamente devido ao novo estímulo fiscal que apoia o investimento empresarial que foi aprovado este ano, e devido ao novo pacote orçamental, que aumenta o défice governamental em 1,55 p.p. do PIB em 2026 (One Big Beautiful Bill Act). Para além disso, a tarifa efectiva foi reduzida para 17,3% versus os 24% inicialmente previstos em Abril.
Na Zona Euro, o crescimento projetado é de 1,0% em 2025 e 1,2% em 2026. Esta previsão é maioritariamente impulsionada pela exportação farmacêutica na Irlanda no primeiro trimestre de 2025 (que representa menos de 5% do PIB na Zona Euro), aumentando o crescimento previsto em 0,1 p.p. O aumento dos gastos em defesa e os investimentos públicos devem também ganhar relevância nos próximos anos, com aumentos programados até 2035. No que diz respeito à inflação, esta é esperada decrescer em 2026 (1,8%) face a 2025 (2,0%), devido à valorização do euro e devido a medidas fiscais temporárias que ajudam a manter as pressões inflaccionistas moderadas.
Na China, o crescimento previsto é de 4,8% em 2025 (revisão em alta de 0,8 p.p. face a Abril) e de 4,2% em 2026, não só devido ao forte desempenho no primeiro semestre de 2025, parcialmente devido à redução significativa das tarifas EUA-China, mas também devido à recuperação dos inventários e do setor exportador, por mais que ainda existam desafios no consumo interno e no sector imobiliário. A nível da inflação, esta está em linha com a previsão de Abril, com a inflação subjacente esperada subir ligeiramente para os 0,5% em 2025 e 0,8% em 2026.
Nos mercados emergentes e em desenvolvimento, as perspectivas de crescimento mantêm-se relativamente sólidas, com o FMI a antecipar um crescimento de 4,1% em 2025 e 4,0% em 2026. Esta expansão reflete dinâmicas distintas entre regiões, com destaque para a Ásia emergente, onde a Índia e a China continuam a ser os principais catalizadores de crescimento.
Na América Latina, as perspectivas são menos uniformes: é expectável que o Brasil venha a beneficiar da recuperação da confiança empresarial e da política monetária mais expansionista, ao passo que o México enfrenta uma desaceleração acentuada depois de um ciclo de crescimento impulsionado por investimentos externos focados na relocalização de cadeias de produção (nearshoring).
Na Europa emergente, o crescimento é revisto em ligeira alta face a Abril, mas continua condicionado por fluxos comerciais reduzidos e elevados custos energéticos.
O Médio Oriente e a Ásia Central têm projecções relativamente estáveis, impulsionadas por políticas fiscais expansionistas em países exportadores de energia, embora a volatilidade geopolítica e os preços das matérias-primas continuem a representar riscos significativos. Na África Subsaariana, o crescimento deverá acelerar para 4,0% em 2025 e 4,3% em 2026, refletindo a melhoria gradual das condições financeiras e a resiliência da procura interna, apesar de os níveis de endividamento e a pressão inflaccionista continuarem a limitar o espaço de manobra das autoridades económicas.
Projecções do Outlook Económico Mundial
Fonte: Fundo Monetário Internacional. Dados em Julho de 2025. Estimativas de crescimento económico.
Em suma, o FMI reconhece um alívio temporário nas previsões de crescimento, mas alerta para um equilíbrio delicado entre estímulos económicos e riscos geopolíticos. As decisões de política fiscal e comercial nos EUA, China e Europa serão determinantes para a trajectória económica global nos próximos trimestres.