
Desde o início do ano, a bolsa francesa tem atravessado um período de underperformance face a outros mercados europeus, com o índice CAC 40 a exibir um comportamento relativamente contido por comparação com outros índices. Após um ciclo de forte valorização no período pós-pandemia, impulsionado pelo dinamismo de alguns sectores e pela recuperação económica global, o desempenho recente tem sido penalizado por uma conjugação de diversos factores.
Figura 1 – Evolução dos Índices CAC 40, DAX, FTSE MIB, IBEX 35 e STOXX 600
Fonte: Banco Invest, Bloomberg.
Um dos elementos centrais para compreender esta desaceleração prende-se com a fraqueza observada nas grandes empresas de luxo que, juntamente com outros nomes do sector de Consumo Discricionário, representam cerca de 25% do peso total do índice. Em particular, empresas como a LVMH, Hermés ou Kering enfrentam hoje um contexto mais desafiante.
A procura na China, outrora um dos principais catalisadores do crescimento, tem perdido vigor devido à desaceleração da economia chinesa e à menor confiança dos consumidores. De acordo com a Morgan Stanley, as vendas de artigos de luxo na China cresceram menos de 4% em 2024, um contraste acentuado face ao crescimento anual de dois dígitos observado entre 2020 e 2022.
Paralelamente, o abrandamento do consumo de bens de luxo em mercados ocidentais, num cenário de taxas de juro mais elevadas e menor crescimento real do rendimento disponível tem pressionado as margens e a expectativa de lucros.
Outro factor que tem pesado sobre o sentimento dos investidores prende-se com a instabilidade política observada em França. As eleições legislativas e a fragmentação do sistema partidário aumentaram a incerteza quanto à sustentabilidade orçamental e à orientação futura das políticas públicas.
O spread da dívida soberana francesa face à alemã (OAT-Bund 10Y) alargou para níveis próximos dos 90 pontos base em Outubro deste ano, reflectindo o aumento do prémio de risco associado à dívida francesa. Este ambiente tem afastado fluxos de investimento estrangeiro e reduzido a atractividade relativa do mercado francês.
Figura 2 – Evolução YTD do Spread OAT-BUND
Fonte: Banco Invest, Bloomberg.
Apesar do referido, as perspectivas para o índice CAC 40 não são inteiramente negativas. Entre outros aspectos, importa destacar algumas métricas que poderão sustentar uma recuperação gradual nos próximos trimestres. Em primeiro lugar, as avaliações encontram-se em níveis atractivos: o índice negoceia actualmente com um múltiplo Price-to-Earnings Forward de cerca de 15x, considerando os resultados esperados para 2026, valor em linha com o do DAX (15x), mas inferior ao S&P 500 (22x).
Não menos relevante, a economia francesa mantém uma base industrial diversificada, com empresas relevantes em áreas como a aviação, defesa, energia ou serviços tecnológicos. Estes sectores, menos dependentes do ciclo do consumo, poderão beneficiar com os programas europeus de reindustrialização, apoiados por fundos comunitários e maior investimento público.
Por fim, importa recordar que os períodos de underperformance tendem, por vezes, a gerar oportunidades de investimento de médio e longo prazo. Historicamente, o CAC 40 tem mostrado uma forte capacidade de recuperação, beneficiando da robustez financeira dos maiores grupos empresariais franceses e da exposição global das suas empresas, muitas das quais são multinacionais com pouca exposição ao mercado interno.