Guia dos Mercados Emergentes: Impacto das Tarifas – O Caso da China
Desde o Liberation Day, dia 2 de Abril de 2025, o presidente Donald Trump tem vindo a impor diversas tarifas sobre um conjunto alargado de parceiros comerciais.
A China está entre os países mais directamente afectados por estas medidas, sendo um dos alvos centrais de Donald Trump. Já antes do Liberation Day, em Fevereiro, o presidente dos Estados Unidos tinha imposto tarifas de 10% a todas as importações chinesas sendo que, em Março, as tarifas foram aumentadas para os 20%. Após o Liberation Day, as tarifas impostas à China já ascendiam aos 54%, com uma ameaça de 145%.
Posteriormente, no dia 12 de Maio, foi anunciado o primeiro “90-day-ceasefire”, com uma redução das tarifas impostas à China para os 30%, com o país a impor uma tarifa recíproca de 10% aos Estados Unidos, seguido de algumas extensões de tréguas tarifárias. Em Outubro, Donald Trump anunciou uma tarifa de 100% às importações chinesas, que não foram de facto aplicadas conforme anunciado.
O que nos traz à data de hoje, em que as tarifas se encontram perto dos 30%, no decorrer das tréguas entre os dois países.
Exportações
As tarifas impostas à China, no contexto das cadeias de valor, incentivaram fortemente a deslocação das etapas finais de montagem da produção para países como o México, Vietname e o Sudeste Asiático. No entanto, alguns componentes críticos para os semicondutores ainda são produzidos na China, preservando a sua centralidade industrial.
Independentemente destes produtos, as exportações da China para os Estados Unidos caíram significativamente este ano, em quase 29% desde o início do ano:
Figura 1: Exportações da China para os Estados Unidos (3Y)

Fonte: Bloomberg. Dados de 31/10/2022 a 31/10/2025.
Em termos globais, apesar de as exportações chinesas totais terem caído no último ano, mantêm-se positivas face à queda em Fevereiro, depois da implementação da primeira tarifa à China e da queda mais acentuada da exportação para os Estados Unidos.
As exportações totais registaram um máximo nos últimos sete meses, em Setembro, com um crescimento de 8.3% face ao ano anterior, com a China a aumentar as vendas para a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), o Médio Oriente e a América Latina, registando uma queda logo a seguir, em termos homólogos, no mês de Outubro, contra as expetativas dos analistas (Figura 2).
Figura 2: Exportações Totais da China (3Y)

Fonte: Bloomberg. Dados de 25/11/2022 a 31/10/2025.
Câmbio e Taxas de Juro
Quando se trata do impacto na taxa de câmbio, este foi positivo desde o início do ano, com o yuan a apreciar 2,4% face ao dólar norte-americano (também devido a uma depreciação generalizada do dólar face a outras moedas).
Com as taxas de juro a 3 anos nos 3% e as taxas de juro a 5 anos nos 3,5%, considerando um nível da inflação de 0,2% em termos homólogos, a taxa de juro real encontra-se no intervalo entre os 2,8% e os 3,3%, um nível generoso que pode atrair investidores, embora seja necessário considerar o risco cambial.
Com efeito, o yuan tem vindo a depreciar face ao euro, em mais de 17% desde os máximos de 2022.
Figura 3: Taxa de Câmbio CNY/EUR (5Y)

Fonte: Bloomberg. Dados de 25/11/2020 a 24/11/2025.
Mercado Accionista
Quanto ao índice CSI-300, este encontra-se bastante positivo year-to-date, acima dos 14% em yuan (17,6% em USD), reflectindo o aumento de entradas líquidas de capital estrangeiro, depois da implementação dos estímulos monetários e fiscais domésticos, para além da expectativa de estabilização regulatória nos sectores de tecnologia e imobiliário.
Figura 4: Índice CSI 300 (CNY) – Retorno a 5 anos

Fonte: Bloomberg. Dados de 25/11/2020 a 24/11/2025.
Conclusão
Apesar da expectativa de que a China possa ser um dos países mais penalizados em termos de comércio devido às tarifas norte-americanas, aplicadas ao longo deste ano, o país conseguiu, através de transshipments (ou seja, através de reexportações via outros países) e de certas isenções tarifárias, manter-se resiliente.
Com a expectativa de que o novo acordo de tréguas possa durar mais um ano e beneficiar também da suspensão de alguns dos acréscimos nas taxas aduaneiras aplicados nos últimos meses, a recuperação da economia chinesa poderá estender-se ao próximo ano. Contudo, importa ter em conta as previsões do FMI, que estima que a economia chinesa crescerá cerca de 4,8% em 2025, antes de desacelerar para aproximadamente 4,2% em 2026. Este cenário sugere um terreno favorável para 2025, mas também recorda que o ritmo de crescimento já está projetado para abrandar em 2026.
A sustentabilidade do movimento de crescimento actual dependerá da evolução da política tecnológica dos Estados Unidos e da capacidade da China de manter ganhos de produtividade internos. No entanto, como referiu Victor Gao, o vice-presidente do Centro para a China e a Globalização (Center for China and Globalization): “We don’t care. China has been here for 5,000 years. Most of the time, there was no United States, and we survived”, sublinhando a resiliência do país no longo-prazo.
Tendo também em conta a dual circulation, a situação na China apresenta perspetivas favoráveis para o próximo ano, com o reforço do mercado interno, consumo doméstico, foco na inovação tecnológica e substituição de importações (circulação interna), e manutenção da integração nas cadeias globais, com menor dependência de inputs externos (circulação externa).