México Impõe Tarifas de 50% à China e a Outros Países Asiáticos?
Desde o Liberation Day, dia 2 de Abril de 2025, o presidente Donald Trump tem vindo a impor diversas tarifas sobre um conjunto alargado de parceiros comerciais. Entre os diversos países, encontra-se o México, que, apesar de estar isento de tarifas em bens englobados pelo USMCA (United States–Mexico–Canada Agreement), tem uma tarifa de 25% sobre os restantes produtos (com excepção do potássio, uma pequena parte das exportações, sujeito a uma tarifa de 10%).
Ainda esta semana, dia 9 de Novembro, o presidente dos Estados Unidos ameaçou aumentar a tarifa imposta ao México em 5%, caso o país não providenciasse água adicional para apoiar os agricultores americanos. Esta subida faria com que a tarifa imposta ao México aumentasse para 30%.
O possível aumento das tarifas impostas ao México, considerando que 85% a 90% dos bens exportados para os Estados Unidos cumprem os requisitos do USMCA (ou seja, estão isentos de tarifa), faria com que a média ponderada de tarifa sobre o total das exportações do México ascendesse dos actuais ~3,75%, para os ~4,5% (cálculo aproximado).
Tarifas Impostas Pelo México
Dia 10 de Dezembro de 2025, o Senado do México aprovou um aumento das tarifas impostas nas importações vindas da China e de outros países asiáticos, tais como a Índia, a Coreia do Sul, Tailândia e Indonésia, até aos 50%, começando no próximo ano. Estas tarifas vão ser aplicadas em certos bens tais como carros, peças para automóveis, têxteis, roupa, plásticos e aço.
O Ministério do Comércio da China reagiu a este aumento das tarifas dia 11 de Dezembro, afirmando que vai seguir com atenção o novo regime de tarifas e avaliar o seu impacto. Avisou também que estas medidas vão enfraquecer as trocas comerciais, e que espera que o México venha a corrigir estas práticas unilateralistas e protecionistas o mais rapidamente possível, referindo que ir contra a globalização económica ao procurar o proteccionismo é prejudicial para os outros países, enquanto simultaneamente não beneficia o próprio país que impõe as tarifas.
Esta decisão do México pode ter o intuito de apaziguar os Estados Unidos antes da próxima revisão do USMCA, em Julho de 2026, enquanto simultaneamente gera 3,76 mil milhões de dólares em receitas, apoiando o México na redução do seu défice fiscal.
Exportações
Apesar do aumento das tarifas impostas ao México este ano, o país não foi tão afectado quanto era esperado pelo mercado: as exportações do país têm vindo a crescer de forma bastante estável nos últimos 40 anos e, beneficiando das políticas de nearshoring como resposta às diversas tarifas impostas pelos Estados Unidos a outros países, as exportações cresceram mais de 5% desde o início deste ano.
Este crescimento ocorreu, mesmo tendo havido alguma contenção nas exportações no início de 2025, enquanto se aguardava a possível remoção ou redução das tarifas por parte de Donald Trump, atendendo a que o México beneficiou (e beneficia) com as atividades de montagem (seja de automóveis, eletrónica, entre outros) realocadas da China.
Figura 1: Exportações Totais do México (5Y)

Fonte: Bloomberg. Dados de 12/12/2020 a 31/10/2025.
As exportações do México atingiram, assim, máximos históricos este ano, superando a China em exportações para os Estados Unidos em alguns meses de 2025, marcando a sua posição como um dos maiores beneficiários da reorganização das cadeias de abastecimento e da guerra comercial entre os dois países.
Mercado Accionista
Quanto ao índice MSCI Mexico, este sofreu uma queda de 30% em 2024. Já este ano, em 2025, o índice mexicano registou uma recuperação significativa, com um retorno de quase 48% desde o início do ano.
Figura 2: Retorno MSCI Mexico (5Y)

Fonte: Bloomberg. Dados de 12/12/2020 a 11/12/2025.
Com uma expetativa de crescimento moderada para o próximo ano, tendo em conta a instabilidade política e institucional e a sua elevada dependência das exportações para os Estados Unidos (e consequentemente das políticas de comércio impostas por Donald Trump), a continuação deste trend para 2026 não é clara. Não obstante, considerando que o índice ainda não atingiu novos máximos desde o início de 2024, o mesmo poderá continuar a beneficiar do nearshoring e das isenções atribuídas pelo USMCA, dependendo do impacto das tarifas impostas não só pelos Estados Unidos ao México, mas também impostas pelo México a diversos países asiáticos.
Câmbio e Taxas de Juro
No caso do impacto cambial, este foi também bastante positivo para o peso mexicano em 2025, tendo apreciado mais de 14%, atendendo, especialmente, a um aumento significativo do investimento direto estrangeiro, sobretudo em sectores industriais e tecnológicos como consequência do nearshoring. Este investimento ultrapassou os 40 mil milhões de dólares em 2025, um dos maiores valores das últimas décadas (o que levou ao aumento da procura pelo peso mexicano).
Figura 3: Taxa de Câmbio MXN/USD (5Y)

Fonte: Bloomberg. Dados de 12/12/2020 a 11/12/2025.
A taxa de referência encontrava-se em 10% no início do ano, tendo, entretanto, sido reduzida até aos 7,25%. Com a inflação a rondar os 3,8% (ao longo deste ano e actualmente), a taxa de juro real encontra-se em 3,45% (tendo estado nos 6,2% no início do ano), o que também atraiu fluxos de capital de curto prazo e revela um nível interessante para os investidores, que devem considerar também o risco cambial, para além da possibilidade de um aumento da inflação, como consequência das novas tarifas impostas pelo México.
Conclusão
Apesar de as tarifas dos EUA sobre o México introduzirem ruído político e poderem aumentar a incerteza no curto prazo, o país continua a apresentar fundamentos estruturais sólidos: taxa de juro real competitiva, aumento do investimento direto estrangeiro, e uma tendência de nearshoring que tem vindo a transformar o perfil exportador e industrial.
A apreciação do peso mexicano e a atractividade das taxas reais têm fomentado fluxos de investimento, suportando a moeda e o mercado accionista. No entanto, essa mesma dependência por fluxos de curto prazo implica o possível risco de reversão: alterações abruptas no contexto global, aversão ao risco ou mudança nas políticas monetárias internacionais poderão precipitar saídas de capital, o que se poderá verificar em breve, com o impacto das novas tarifas impostas pelo México.
Ademais, a exposição de sectores industriais e exportadores ao câmbio e à conjuntura internacional sugere que os ganhos do nearshoring não serão homogéneos: as empresas com maiores custos em divisa ou dependência de importações podem ver margens pressionadas com um peso valorizado. Adicionalmente, o aumento nas tarifas aplicadas sobre as importações mexicanas provenientes de vários países asiáticos, o que poderá aumentar os custos para estas empresas, pressionando igualmente as margens e podendo limitar parte dos benefícios associados à relocalização productiva.
Por fim, o fraco desempenho de 2024 sublinha o quão vulnerável o país permanece a choques, sejam estes institucionais, económicos ou cambiais. Como tal, embora a perspectiva de médio/longo prazo para o México continue atractiva, esta exige uma abordagem selectiva e vigilância constante sobre a evolução política, os fluxos de capital e as condições globais.