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Segundo dados do Banco Mundial, em 2024, o sector de healthcare representou cerca de 10,3% do PIB global, prevendo-se que este número continue a crescer, impulsionado por uma confluência de factores estruturais, das mudanças demográficas aos avanços tecnológicos ou crescente prevalência de doenças crónicas. O envelhecimento populacional é um dos principais motores deste crescimento, com estimativas das Nações Unidas a indicarem que até 2050 mais de 1,5 mil milhões de pessoas terão mais de 65 anos. Paralelamente, a expectativa média de vida tem aumentado de forma sustentada, tendo atingido uma média global de 73 anos, com previsões de alcançar os 77 anos até 2050.
Esperança média de vida em 1950, 2000 e estimativa para 2050, por região
Fonte: Nações Unidas, Statista
O continente europeu destaca-se como um bom exemplo dos argumentos supramencionados, com a pirâmide demográfica a apresentar sinais pronunciados de inversão, com o Eurostat a assinalar que, até 2030, mais de 25% da população europeia terá mais de 65 anos, o que se deverá traduzir numa pressão acrescida sobre os sistemas de saúde e numa oportunidade significativa para investimentos em medicina personalizada e tratamentos para doenças associadas à idade.
Neste contexto e atendendo ao peso deste sector de actividade na economia global, o investimento em healthcare reveste-se de uma relevância significativa, em particular, dado estarmos perante um sector que tende a apresentar um crescimento sustentado e com um perfil relativamente defensivo.
Entre outros aspectos, a revolução tecnológica no sector é um factor crítico. A título de exemplo, a biotecnologia tem desempenhado um papel essencial na aceleração da descoberta de novos fármacos, enquanto a automação e a robótica médica têm optimizado procedimentos clínicos e cirúrgicos, reduzindo custos e melhorando a eficiência dos tratamentos.
A digitalização dos serviços de saúde tem sido outra tendência marcante, promovendo maior acessibilidade e eficiência operacional. A telemedicina, que registou um crescimento exponencial durante a pandemia da COVID-19, continua a expandir-se sendo que até 2030 a McKinsey antecipa que o mercado global para este segmento poderá valer perto de 280 mil milhões. Não menos relevante, o uso de dispositivos wearable para monitorização remota da saúde e a integração de registos médicos electrónicos têm redefinido a experiência dos pacientes e optimizado a prestação de serviços médicos, reduzindo custos hospitalares e melhorando os resultados clínicos.
De uma perspectiva do financiamento, o investimento institucional tem acompanhado estas tendências, com governos e grandes fundos de investimento a canalizar recursos substanciais para a investigação e desenvolvimento do sector. Nos Estados Unidos, a despesa federal com saúde ultrapassou os 4,3 triliões de dólares em 2023, de acordo com os dados da OCDE, enquanto na Europa os programas de financiamento à inovação em saúde atingiram valores recorde, ultrapassando os 100 mil milhões de euros no mesmo ano. Estes investimentos favorecem um ambiente de inovação contínua e impulsionam o crescimento de empresas disruptivas na área.
Despesa global com healthcare em proporção do PIB em 2022
Fonte: Nações Unidas, Statista
O que esperar do sector de Healthcare para 2025?
Na sequência de um desempenho relativamente brando no ano de 2024, este sector entra no novo ano com um outlook mais atractivo.
Retornos do MSCI World Index no ano de 2024, em USD, e respectivos sectores
Fonte: Nações Unidas, Statista
Conciliando o fraco desempenho das empresas do sector com o facto do crescimento de resultados ter sido positivo, as métricas de avaliação do sector encontram-se agora em níveis mais atractivos. Em linha com o referido, à data do final de Dezembro, o rácio Forward Price-to-Earnings do índice MSCI World Healthcare (16,7x) era cerca de 13% inferior ao do MSCI World (19,1x), algo pouco comum dado que, historicamente, em horizontes temporais mais extensos, o sector tende a obter, em média, retornos superiores aos exibidos pelo índice MSCI World, fruto do potencial de crescimento e resiliência dos resultados das empresas de healthcare.
Apesar do elevado potencial de crescimento, o sector de healthcare apresenta riscos que os investidores devem considerar e que podem pesar na tese de investimento. Por um lado, observam-se riscos de longa data, nomeadamente, a complexidade regulatória, que continua a ser um desafio, com os processos de aprovação de novas terapias a poderem demorar vários anos e a exigir investimentos significativos. Não menos relevante, os custos elevados de investigação e desenvolvimento, que podem ultrapassar os 2 mil milhões de dólares para a aprovação de um único medicamento, representam outro obstáculo. Além disso, a volatilidade dos preços das acções de empresas de alguns segmentos do sector de healthcare, em particular, de empresas relativamente embrionárias de biotecnologia, exige uma abordagem prudente e de gestão criteriosa do risco.
Por outro lado, nos últimos anos têm vindo a surgir novos desafios, nomeadamente, associados ao possível corte da despesa em saúde por parte do governo dos EUA, algo que se afigura como um tema relevante para a actual administração norte-americana liderada por Donald Trump.
Conclusão
O sector de healthcare pode constituir uma oportunidade de investimento atractiva, sustentada por uma combinação de factores, como as dinâmicas demográficas ou a resiliência dos resultados destas empresas em períodos de maior incerteza macroeconómica. Adicionalmente, no contexto de mercado actual, as métricas de avaliação deixam o sector de healthcare bem posicionado para o ano de 2025.
Como tal, confrontados com um mercado global em expansão e avanços contínuos na medicina moderna, o investimento em healthcare pode vir a cimentar o seu estatuo enquanto estratégia de longo prazo para investidores atentos às dinâmicas evolutivas do sector.