
No primeiro semestre de 2025, o mercado accionista norte-americano registou um desempenho positivo expressivo, com o índice S&P-500 a valorizar cerca de 6,2%, atingindo novos máximos históricos. No entanto, para o investidor europeu médio, este aparente sucesso traduziu-se, paradoxalmente, num resultado negativo de aproximadamente -6,6%, quando ajustado à depreciação do dólar norte-americano (USD) face ao euro (EUR). Esta discrepância revela de forma clara e prática o impacto potencial da exposição cambial nas carteiras de investimento globais.
Figura 1 – Evolução YTD do Índice S&P-500, em EUR e em USD
Fonte: Bloomberg, Banco Invest.
O início do ano serve, portanto, como um exemplo do risco que as flutuações cambiais representam para carteiras de investimento diversificadas e globais. A questão que se coloca com frequência entre investidores e gestores de carteiras prende-se com a possibilidade de cobrir o risco cambial. A resposta não é linear e depende de múltiplos factores, tanto de natureza estrutural como conjuntural.
Em primeiro lugar, importa ter em conta que as flutuações cambiais de curto prazo são notoriamente difíceis de prever. Os mercados cambiais são altamente líquidos e influenciados por variáveis complexas e interdependentes — da política monetária e taxas de juro aos eventos geopolíticos. Adicionalmente, a cobertura cambial acarreta custos, que podem corroer o retorno líquido de uma carteira.
Não menos relevante, e no que ao dólar diz respeito, importa ainda considerar o papel histórico desta moeda enquanto principal moeda de reserva mundial. Em períodos de instabilidade nos mercados financeiros, o USD tende a apreciar dado o seu estatuto enquanto activo de refúgio, o que tem oferecido uma cobertura natural para carteiras internacionais.
No entanto, este papel tem vindo a ser gradualmente questionado, especialmente à luz do aumento substancial da dívida pública norte-americana. De igual modo, a administração Trump definiu dois objectivos estratégicos que têm contribuído para colocar a moeda norte-americana sob pressão. Por um lado, a ambição de reduzir o défice comercial — frequentemente acompanhada por políticas proteccionistas e aumento de tarifas — e, por outro, a intenção do presidente Donald Trump de baixar as taxas de juro, ambos factores com potencial para enfraquecer o dólar no médio prazo.
Face ao exposto, e embora a cobertura cambial não deva necessariamente ser utilizada de forma sistemática, há momentos em que pode ser estrategicamente justificada. Historicamente, os pares cambiais oscilam em torno de médias de longo prazo — no caso do par EUR/USD, a média dos últimos 15 anos ronda os 1,182, não muito distante do valor actual. Quando o câmbio se afasta significativamente dos valores médios, pode fazer sentido considerar uma cobertura para o risco cambial, numa óptica de reversão à média (“mean reversion”). Todavia, convém lembrar que tais decisões devem ser fundamentadas num processo disciplinado de análise macroeconómica e não meramente reactivo a movimentos pontuais de mercado.
Figura 2 – Evolução do Par Cambial EUR/USD (2010-2025)
Fonte: Bloomberg, Banco Invest.
Conclusão
O desempenho divergente dos mercados accionistas e cambiais no primeiro semestre de 2025 serve como lembrete da importância de incorporar o risco cambial na gestão de carteiras com exposição internacional. Embora a cobertura cambial possa parecer, à primeira vista, uma solução prudente, na maior parte dos casos envolve custos e incertezas que podem superar os benefícios esperados. A chave está em compreender o perfil da carteira, o horizonte temporal do investidor e a posição relativa das taxas de câmbio face às suas médias históricas. Em última análise, a gestão do risco cambial deve ser vista não como uma necessidade, mas como uma ferramenta estratégica, devendo ser utilizada de forma criteriosa.