Outlook 2º Trimestre 2025 - Evolução dos indicadores macroeconómicos

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O título do último relatório da OCDE, de Março de 2025, não podia ser mais elucidativo: “Navegar através da Incerteza”, sendo destacada a desaceleração esperada no crescimento económico global nos próximos anos. A previsão para o crescimento do PIB mundial foi ajustada para 3,1%, em 2025, e 3,0% em 2026, menos 0,2 e 0,3 pontos percentuais (p.p.) relativamente às estimativas de Dezembro último. A inflação global é esperada permanecer elevada, com taxas projectadas de 3,8% e 3,2%, respectivamente.

Num contexto de elevada incerteza, a OCDE sublinha os seguintes principais riscos para economia global:

- A fragmentação comercial, com o aumento das barreiras comerciais em várias economias do G20, que constitui uma ameaça ao crescimento económico global e a um possível aumento da taxa de inflação;

- A persistência da inflação acima do objectivo dos principais bancos centrais, o que poderá conduzir a políticas monetárias mais restritivas, e;

- As tensões geopolíticas e mudanças políticas significativas, que aumentam a incerteza, impactando negativamente o investimento e o consumo.

A estes factores, acrescem ainda as preocupações com a sustentabilidade das dívidas públicas, necessária para enfrentar eventuais choques económicos e acomodar investimentos futuros.

Previsões da OCDE

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Fonte: OCDE, Março de 2025.

 

Estados Unidos

A economia norte-americana expandiu 2,3% (taxa anualizada) no quarto trimestre de de 2024, o ritmo mais lento dos últimos três trimestres, e abaixo dos 3,1% registados no trimestre anterior. O aumento do PIB real no quarto trimestre reflectiu, principalmente, os aumentos nas despesas dos consumidores e nas despesas governamentais, que foram parcialmente compensados ​​por uma redução do investimento.

Em termos homólogos, no último trimestre de 2024, o PIB real cresceu 2,5%, menos 0,2 p.p. que no trimestre anterior.

A taxa de desemprego subiu para 4,1% em Fevereiro de 2025, acima dos 4,0% de Janeiro e superando ligeiramente as expectativas do mercado de 4,0%. O número de desempregados aumentou em 203.000, para 7,05 milhões, enquanto o emprego desceu em 588.000, para 163,31 milhões. A taxa de participação na força de trabalho também desceu para 62,4%.

Crescimento do PIB, ISM e Taxa de Desemprego

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Fonte: Bloomberg.

A taxa de inflação anual desceu para 2,8% em Fevereiro de 2025, face aos 3% registados no mês anterior, e abaixo das previsões de 2,9%. Os custos da energia caíram 0,2% em termos homólogos, após um aumento de 1% em Janeiro, o primeiro aumento em seis meses. A inflação também abrandou para a habitação (4,2% vs 4,4%), carros e camiões usados ​​(0,8% vs 1%) e transportes (6% vs 8%). Por outro lado, a inflação acelerou para os bens alimentares (2,6% vs 2,5%). Numa base mensal, o Índice de Preços no Consumidor (IPC) subiu 0,2%, abaixo do aumento de 0,5% em Janeiro, que tinha sido a taxa de inflação mensal mais elevada desde Agosto de 2023. Entretanto, a inflação anual subjacente (excluindo os custos com alimentação e energia) desacelerou para 3,1%, a mais baixa desde Abril de 2021.

Confiança dos Consumidores e Taxa de Inflação

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Fonte: Bloomberg.

Segundo as últimas previsões da OCDE, a economia norte-americana deverá crescer 2,2% e 1,6%, em 2025 e 2026, respectivamente. A taxa de inflação anual é antecipada aumentar para os 2,8%, no final deste ano, e para os 2,6% no final de 2026, permanecendo, assim, acima da referência dos 2,0%.

 

Zona Euro

O PIB da Zona Euro estagnou no quarto trimestre de 2024, quando comparado com o trimestre anterior. Comparado com o mesmo trimestre do ano anterior, o PIB cresceu 1,2%, ultrapassando as estimativas iniciais de 0,9% e acelerando 0,2 p.p. relativamente ao trimestre precedente. Deste modo, o crescimento do quarto trimestre (1,2%) foi o valor mais elevado desde o início de 2023, impulsionado pelos menores custos de financiamento e diminuição das pressões inflacionistas. O consumo das famílias cresceu 1,5% (acima dos 1,1% do terceiro trimestre), enquanto as despesas públicas aumentaram 2,8% (ligeiramente abaixo dos 3,1% do terceiro trimestre). No entanto, o investimento fixo contraiu 2,1%, piorando face à queda de 1,6% no trimestre anterior. As exportações aumentaram 1,1%, enquanto as importações aumentaram 1,2%. Entre as maiores economias do bloco, a Espanha liderou com um forte crescimento de 3,5%, seguida pela Holanda (1,8%), França (0,6%) e Itália (0,6%). Em contraste, a Alemanha, a maior economia da zona euro, manteve-se em contracção (-0,2%).

Crescimento do PIB e Taxa de Desemprego

4-Mar-26-2025-03-30-54-5994-PMFonte: Bloomberg.

A taxa de desemprego na Zona Euro manteve-se inalterada nos 6,2% em Janeiro de 2025, e ligeiramente abaixo do valor observado em igual mês do ano passado (6,5%). Entre os mais jovens, contudo, a taxa de desemprego é estimada situar-se nos 14,1%.

Por sua vez, a taxa de inflação aumentou 0,4%, em cadeia, em Fevereiro de 2025. Em termos anuais, a taxa de inflação foi de 2,3%, abaixo dos 2,5% registados em Janeiro. Em Fevereiro de 2024, a taxa era de 2,6%.

Confiança dos Consumidores e Taxa de Inflação

Fonte: Bloomberg.

As taxas anuais mais baixas foram registadas em França (0,9%), Irlanda (1,4%) e Finlândia (1,5%). Pelo contrário, as taxas mais elevadas foram observadas na Estónia (5,1%), na Croácia (4,8%) e na Bélgica (4,4%). Na Alemanha a taxa de inflação foi de 2,6%, e em Espanha situou-se nos 2,9%.  

Em Fevereiro de 2025, o maior contributo para a taxa de inflação anual da área do euro veio dos serviços (+1,66 p.p.), seguidos da alimentação, álcool e tabaco (+0,52 p.p.), bens industriais não energéticos (+0,14 p.p.) e energia (+0,01 p.p.).

Segundo as últimas previsões da OCDE, a economia da Zona Euro deverá crescer 1,0% e 1,2%, em 2025 e 2026, respectivamente. Entre as maiores economias, a Alemanha é esperada crescer 0,4% e 1,1%, a França 0,8% e 1,0%, a Itália 0,7% e 0,9%, e a Espanha 2,6% e 2,1%.

 

Portugal

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o PIB, em volume, registou uma variação homóloga de 2,8% no quarto trimestre de 2024, taxa superior em 0,9 p.p. à verificada no trimestre precedente. O contributo positivo da procura interna para a variação homóloga do PIB aumentou, passando de 2,9 p.p. no 3º trimestre para 3,1 p.p., verificando-se uma aceleração do consumo privado e uma redução do investimento. O contributo da procura externa líquida para a variação homóloga do PIB foi menos negativo (passando de -1,0 p.p. para -0,3 p.p.), observando-se uma desaceleração das exportações menos intensa que a das importações.

Comparando com o terceiro trimestre de 2024, o PIB registou um crescimento de 1,5%, após uma taxa de 0,2% observada no trimestre anterior. O contributo da procura externa líquida para a variação em cadeia do PIB passou a positivo (de -1,2 p.p. para +1,0 p.p.), tendo as importações registado uma diminuição no quarto trimestre. O contributo positivo da procura interna para a variação em cadeia do PIB diminuiu para 0,6 p.p. devido à redução do investimento, reflectindo sobretudo o contributo negativo da Variação de Existências associado em grande medida ao comportamento dos fluxos de comércio internacional.

Portugal: Crescimento do PIB e Saldo Externo de Bens e Serviços

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Fonte: Bloomberg.

No conjunto do ano de 2024, o PIB cresceu 1,9% em volume, após o aumento de 2,6% em 2023. A procura interna apresentou um contributo positivo para a variação anual do PIB superior ao observado no ano anterior, verificando-se uma aceleração das despesas de consumo final. O contributo da procura externa líquida foi negativo em 2024, reflectindo a desaceleração das exportações e a aceleração das importações.

Em termos nominais, o PIB aumentou 6,3% em 2024 (9,8% em 2023), atingindo cerca de 285 mil milhões de euros.

Ainda de acordo com o INE, a variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) foi 2,4% em Fevereiro, taxa inferior em 0,1 p.p. à observada no mês anterior. O indicador de inflação subjacente, excluindo alimentação e energia, registou uma variação de 2,5% (2,7% em Janeiro). A variação do índice relativo aos produtos energéticos diminuiu para 1,5% (2,4% no mês anterior) e o índice referente aos produtos alimentares não transformados aumentou para 2,4% (1,8% em Janeiro).

Por sua vez, o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) português apresentou uma variação homóloga de 2,5%, face aos 2,7% no mês anterior. Excluindo produtos alimentares não transformados e energéticos, o IHPC atingiu uma variação homóloga de 2,5% em Fevereiro (2,8% em Janeiro), taxa inferior à correspondente para a área do Euro (estimada em 2,6%).

Por fim, a taxa de desemprego foi estimada em 6,2%, valor inferior ao de Janeiro (0,2 p.p.), de Outubro (0,4 p.p.) e de Dezembro de 2024 (0,2 p.p.), segundo o INE.

 

Países Emergentes

A economia da China cresceu 1,6% no quarto trimestre de 2024, em termos anuais, acelerando face aos 1,3% registados no trimestre anterior. Este foi o décimo avanço trimestral consecutivo, impulsionado por uma vasta gama de medidas de estímulos, desde Setembro do ano passado, com o objectivo de reavivar o crescimento económico. Na vertente monetária, o Banco Central Popular da China (PBoC) manteve a taxa de juro directora nos 3,1%, o valor mais baixo desde que existe histórico. Segundo as últimas estimativas da OCDE, o PIB da China, que em 2024 cresceu 5,0%, deverá desacelerar para os 4,8% em 2025, e para os 4,4% no próximo ano.

Economias Emergentes

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Fonte: Bloomberg.

Ainda segundo a OCDE, a Índia continua a liderar as taxas de crescimento a nível global, com uma expansão de 6,4% e 6,6%, em 2025 e 2026, respectivamente. A taxa de inflação é esperada continuar a diminuir, dos 5,0% em 2024, para os 4,5% em 2025, e 4,1% em 2026.

No Brasil, o crescimento do PIB deverá situar-se nos 2,1% em 2025, face aos 3,4% observados no ano passado. Para 2026, a OCDE antecipa um abrandamento ainda maior, para os 1,4%. Pelo contrário, a taxa de inflação é antecipada aumentar dos 4,4%, em 2024, para os 5,4% em 2025, estabilizando neste valor em 2026.

Por último, sem grande surpresa, à luz da ameaça do aumento das tarifas comerciais pela nova Administração norte-americana, o México é esperado enfrentar uma elevada volatilidade económica nos próximos meses. De acordo com a OCDE, o PIB do México, que cresceu 1,3% no ano passado, deverá contrair 1,3% em 2025, e 0,6% em 2026.

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