
A OCDE reviu, novamente, em baixa as estimativas de crescimento da economia global, num contexto marcado pelo aumento das tensões comerciais devido à imposição de tarifas pelos Estados Unidos e esperadas retaliações pelos parceiros internacionais. Adicionalmente ao aumento do protecionismo económico, a OCDE alerta igualmente para a manutenção da incerteza geopolítica e para o aumento dos riscos financeiros, associados às elevadas avaliações e níveis de concentração nos mercados accionistas, às elevadas necessidades de refinanciamento das empresas e, em particular, à sustentabilidade da dívida pública em muitos países desenvolvidos, onde as taxas de juro permanecem historicamente altas e onde crescem as pressões para aumentar os gastos com defesa.
Desta forma, a OCDE estima agora uma diminuição do ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global de 3,3%, em 2024, para os 2,9% em 2025 e 2026, menos 0,2 e 0,1 pontos percentuais (p.p.) do que nas previsões de Março último. Por sua vez, a taxa de inflação é projectada diminuir, dos 6,2% em 2024, para os 3,6% e 3,2% entre os países do G20, em 2025 e 2026, respectivamente.
Previsões da OCDE
Fonte: OCDE, Junho de 2025.
Estados Unidos
A economia dos Estados Unidos contraiu à taxa anualizada de 0,2% no primeiro trimestre de 2025, a primeira contração nos últimos três anos. As importações de bens e serviços aumentaram 42,6%, com as empresas e consumidores a anteciparem a esperada subida dos preços resultante das tarifas comerciais anunciadas pela Administração Trump. Os contributos do consumo privado e dos gastos públicos foram igualmente negativos no trimestre, com variações de +1,2%, o valor mais fraco desde o segundo trimestre de 2023, e -4,6%, respectivamente. Pela positiva, o investimento cresceu 7,8% e as exportações aumentaram 2,4%.
Em termos homólogos, o PIB cresceu 2,1% no primeiro trimestre do ano, menos 0,4 p.p. que no trimestre anterior, e o valor mais baixo desde o quarto trimestre de 2022. Tal como na evolução em cadeia, a desaceleração do crescimento anual resultou largamente do aumento das importações (+13,6%).
Crescimento do PIB, ISM e Taxa de Desemprego
Fonte: Bloomberg.
A taxa de inflação acelerou para os 2,4% em Maio (2,3% em Abril, o valor mais baixo desde 2021), reflectindo os primeiros efeitos do aumento das tarifas sobre as importações. Excluindo os custos com a alimentação e energia, a taxa de inflação subjacente manteve-se nos 2,8%. Em ambos os casos, a taxa de inflação em Maio surpreendeu os mercados, ao sair abaixo do esperado pelos analistas, que temiam maiores pressões sobre os preços após o aumento das tarifas sobre as importações, impostas pela Administração Trump.
Confiança dos Consumidores e Taxa de Inflação
Fonte: Bloomberg.
Segundo as últimas estimativas da OCDE, a economia norte-americana é esperada crescer 1,6% e 1,5%, em 2025 e 2026, respectivamente, desta forma desacelerando significativamente face aos 2,8% registados em 2024. No sentido contrário, a taxa de inflação é antecipada aumentar dos 2,5%, em 2024, para os 3,2% em 2025, e para os 2,8% no próximo ano.
Zona Euro
A economia da Zona Euro cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2025, em cadeia. Este valor é o mais alto desde o terceiro trimestre de 2022 e representa uma aceleração de 0,3 p.p. face ao trimestre precedente. Este desempenho foi impulsionado pelo crescimento excepcional da Irlanda, que registou um aumento de 9,7%, e por uma performance da Alemanha superior ao inicialmente reportado. Entre as grandes economias, Espanha e Alemanha destacaram-se com crescimentos de 0,6% e 0,4%, respectivamente. A Itália expandiu 0,3%, enquanto a França e os Países Baixos registaram ganhos modestos de 0,1% cada.
Em termos homólogos, a Área do Euro cresceu 1,5%, superando as estimativas anteriores de 1,2% e registando o melhor desempenho anual desde o quarto trimestre de 2022. Este crescimento ocorre após o avanço de 1,2% no quarto trimestre do ano passado.
Entre as maiores economias do bloco, o PIB da Alemanha estagnou, mas houve expansões em França (0,6%), Itália (0,7%), Espanha (2,8%) e Países Baixos (2,0%) em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Crescimento do PIB e Taxa de Desemprego
Fonte: Bloomberg.
Em Maio, a taxa de inflação na Zona Euro diminuiu para os 1,9% (2,2% no mês anterior), fixando-se pela primeira vez desde Setembro de 2024 abaixo do objectivo do Banco Central Europeu (BCE).
Um dos principais factores para a desaceleração foi a forte redução da inflação nos serviços, que caiu para 3,2% em relação aos 4,0% de Abril, atingindo o nível mais baixo desde Março de 2022. Os preços da energia continuaram a cair, com uma redução de 3,6% em termos homólogos, enquanto a inflação dos bens industriais não energéticos manteve-se estável em 0,6%. Em contraste, os preços dos alimentos, bebidas alcoólicas e tabaco aceleraram, subindo 3,3%, contra 3,0% no mês anterior. Paralelamente, a inflação subjacente, que exclui os componentes voláteis de alimentação e energia, recuou para 2,3%, o valor mais baixo desde Janeiro de 2022.
Entre as principais economias, na Alemanha a inflação manteve-se inalterada face ao mês precedente, nos 2,1%, em França caiu 0,1 p.p., para os 0,7%, e na Espanha manteve-se a trajectória descendente iniciada no início de 2025, tendo abrandado para os 1,9% (3,0% em Fevereiro último).
De acordo com a OCDE, a economia da Zona Euro deverá crescer 1,0% em 2025, e 1,2% em 2026, desta forma acelerando face aos 0,8% observados em 2024. Por sua vez, a taxa de inflação deverá abrandar, dos 2,4% em 2024, para os 2,2% e 2,0% em 2025 e 2026, respectivamente.
Confiança dos Consumidores e Taxa de Inflação
Fonte: Bloomberg.
Portugal
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), o PIB, em volume, registou uma variação homóloga de 1,6% no primeiro trimestre de 2025, taxa inferior em 1,2 p.p. à observada no trimestre precedente. O contributo positivo da procura interna para a variação homóloga do PIB diminuiu ligeiramente, passando de 3,6 p.p. no quarto trimestre para 3,5 p.p., reflectindo a desaceleração do consumo privado. Em sentido oposto, o investimento acelerou, reflectindo o aumento expressivo do contributo da ‘variação de existências’ para a variação homóloga do PIB, traduzindo um efeito de reposição de stocks após a diminuição observada no trimestre anterior. O contributo negativo da procura externa líquida para a variação homóloga do PIB acentuou-se no primeiro trimestre, observando-se uma forte desaceleração das exportações e uma ligeira aceleração das importações.
Comparando com o quarto trimestre de 2024, o PIB diminuiu 0,5% em volume, após um crescimento de 1,4% no trimestre anterior. O contributo da procura externa líquida para a taxa de variação em cadeia do PIB passou a negativo (de +0,7 p.p. para -0,7 p.p.), verificando-se uma redução das exportações e um crescimento das importações. O contributo positivo da procura interna diminuiu para 0,1 p.p. (0,7 p.p. no trimestre anterior), verificando-se uma redução do consumo privado.
Ainda de acordo com o INE, a taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) terá aumentado para 2,3% em Maio de 2025, taxa superior em 0,2 p.p. à observada no mês anterior. O indicador de inflação subjacente (índice total excluindo produtos alimentares não transformados e energéticos) terá registado também uma variação de 2,3% (2,1% no mês precedente). A variação do índice relativo aos produtos energéticos aumentou para 0,1% (-0,1% em Abril de 2025) e a variação do índice referente aos produtos alimentares não transformados aumentou para 4,1% (3,3% no mês anterior). A variação média nos últimos doze meses é estimada situar-se nos 2,4% (valor idêntico no mês anterior). Por sua vez, o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) português terá registado uma variação homóloga de 1,7% (2,1% no mês precedente).
Portugal: Crescimento do PIB e Saldo Externo de Bens e Serviços
Fonte: Bloomberg.
Por fim, segundo as últimas estimativas da OCDE, a economia nacional é esperada manter, em 2025 e 2026, o ritmo de crescimento registado no ano passado, nos 1,9%. Por seu turno, a taxa de inflação é antecipada diminuir dos 2,7% registados em 2024, para os 2,1% em 2025 e 2026.
Países Emergentes
A economia da China cresceu 5,4% no primeiro trimestre de 2025, comparado com o mesmo período do ano passado, sem alteração face ao trimestre precedente. A actividade económica manteve-se, pois, robusta, impulsionada pela produção industrial, que registou o maior aumento desde Junho de 2021 (7,7%, em Março). No comércio externo, as exportações tiveram o maior crescimento desde Outubro do ano passado, à medida que as empresas anteciparam a entrada em vigor das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos. Segundo as últimas estimativas da OCDE, o PIB da China, que em 2024 cresceu 5,0%, deverá desacelerar para os 4,7% em 2025, e para os 4,3% no próximo ano. A taxa de inflação é esperada continuar perto de zero em 2025, aumentando para os 1,4% em 2026.
Ainda segundo a OCDE, a Índia continua a liderar as taxas de crescimento a nível global, com uma expansão de 6,3% e 6,4%, em 2025 e 2026, respectivamente. A taxa de inflação é esperada continuar a diminuir, dos 4,6% em 2024, para os 4,1% em 2025, e 4,0% em 2026.
Economias Emergentes
Fonte: Bloomberg.
No Brasil, o crescimento do PIB deverá situar-se nos 2,1% em 2025, face aos 3,4% observados no ano passado. Para 2026, a OCDE antecipa um abrandamento ainda maior, para os 1,6%. Pelo contrário, a taxa de inflação é antecipada aumentar dos 4,4%, em 2024, para os 5,7% em 2025, estabilizando nos 5,0% em 2026.
Por último, sem grande surpresa, consequência das tensões comerciais com os Estados Unidos, o México é esperado enfrentar uma elevada volatilidade económica nos próximos meses. De acordo com a OCDE, o PIB do México, que cresceu 1,5% no ano passado, é esperado crescer apenas 0,4% e 1,1%, em 2025 e 2026, respectivamente.