O Regresso das Obrigações - O Que Esperar no Actual Contexto de Mercado

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Três anos depois da inflação ter atingido níveis que despoletaram uma das mais severas crises do mercado obrigacionista em décadas, as obrigações globais voltam a dar sinais de vitalidade. O Bloomberg Global Aggregate Index, que acompanha dívida soberana e privada em economias desenvolvidas e emergentes, já recuperou mais de 20% face ao mínimo registado em 2022, um marco técnico que assinala a entrada em território de bull market

Figura 1 –  Evolução do Índice Global de Obrigações da Bloomberg (2020 - 2025)

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Fonte: Bloomberg.

Este regresso não surge por acaso. A inversão da trajectória da inflação nas principais economias, aliada a indícios cada vez mais claros de abrandamento económico, abriu espaço para uma mudança de tom por parte dos bancos centrais. Nos Estados Unidos, o arrefecimento do mercado laboral tem reforçado a convicção de que a Reserva Federal poderá dar continuidade ao ciclo de cortes de taxas iniciado o ano passado, com o mercado a antecipar uma redução de 25 pontos-base na próxima reunião. Esta expectativa tem alimentado uma recuperação generalizada no mercado obrigacionista, após um período de vários anos em que os investidores foram penalizados pela combinação adversa de inflação persistente e taxas de juro mais altas.

Ainda assim, importa sublinhar que, embora a descida das taxas de juro sustente este movimento, sobretudo nas maturidades curtas e intermédias, as obrigações de longo prazo permanecem vulneráveis. O crescimento da dívida pública, associado a desafios fiscais estruturais, continua a merecer a atenção dos investidores. Em França, o governo tem alertado para o risco de uma crise de confiança nas contas públicas, num momento de fragilidade política agravado pela instabilidade decorrente da queda do executivo liderado por François Bayrou. No Reino Unido, a expectativa recai sobre o plano orçamental que será apresentado em Novembro, no qual o novo Chanceler terá de conciliar medidas de estímulo ao crescimento com a necessidade de disciplina orçamental. Também no Japão, a incerteza política gerada pela saída inesperada do primeiro-ministro levanta dúvidas sobre o compromisso futuro com a consolidação fiscal.

Do ponto de vista histórico, os mercados obrigacionistas assumem um papel crucial nas carteiras, sendo por natureza menos voláteis do que as acções. Contudo, períodos de subida abrupta de taxas, como o verificado entre 2021 e 2023, podem gerar perdas expressivas e prolongadas. O facto da recuperação actual ser a primeira em vários anos evidencia a mudança de regime, de um ambiente dominado pela inflação e política monetária mais restrictiva para uma fase em que a desaceleração económica e descida das taxas voltam a favorecer a dívida.

 

Conclusão

O regresso das obrigações globais a território “bull” constitui um ponto de inflexão relevante para investidores institucionais e particulares. A recuperação reflecte não apenas a desaceleração da inflação e a expectativa de cortes de taxas, mas também a reafirmação da dívida como activo central nas carteiras diversificadas. No entanto, os riscos fiscais em várias economias desenvolvidas recordam que o optimismo deve ser temperado pela prudência. Para o investidor, a mensagem é clara: o mercado obrigacionista recuperou, mas a selecção criteriosa de maturidades, geografias e emitentes continuará a ser determinante para alcançar retornos consistentes.

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