O Rumo das Taxas de Juro: Mercado Antecipa Cortes Mais Acentuados em 2026

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Nos últimos meses, os investidores têm acompanhado com atenção redobrada os sinais vindos da Reserva Federal norte-americana (“FED”), procurando decifrar o rumo da política monetária num contexto de inflação ainda superior a 2% e crescimento económico desigual. As taxas de juro, sendo o principal instrumento de actuação do banco central, continuam a ser o centro das atenções, sobretudo no que diz respeito às expectativas quanto à sua trajectória futura.

Figura 1 – Evolução Esperada das Taxas de Juro para o Final de 2025 e 2026

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Fonte: Bloomberg

O gráfico mostra a evolução das taxas implícitas — que o mercado antecipa com base nos contratos futuros — para o final de 2025 e de 2026. A linha branca representa a taxa esperada para o final de 2025, enquanto a linha azul se refere às projecções para o final de 2026.

A leitura mais imediata revela dois comportamentos distintos. Por um lado, as expectativas para o final deste ano apresentam variações acentuadas ao longo do tempo, reflectindo uma incerteza persistente quanto às decisões da FED nos próximos trimestres. Desde Agosto de 2024, esta expectativa oscilou entre valores mais baixos e picos superiores a 4%, com reações divergentes a factores como a divulgação de dados macroeconómicos ou discursos de responsáveis da Reserva Federal.

Por outro lado, a linha azul evidencia maior estabilidade. Desde o início de 2025, as projecções para o final de 2026 pouco oscilaram. Entre as várias leituras possíveis, esta ocorrência pode indicar que os agentes de mercado, embora divididos quanto ao que poderá acontecer até ao final do ano, estão razoavelmente alinhados sobre o cenário provável para o médio prazo: uma taxa mais baixa e estável, num contexto de inflação mais controlada e política monetária menos restritiva.

Outro ponto relevante que este gráfico destaca é que o mercado espera mais cortes de taxa de juro em 2026 do que em 2025. A diferença entre as duas linhas traduz um ciclo de flexibilização monetária mais acentuado no próximo ano, o que faria sentido, nomeadamente, num cenário de desaceleração económica ou prolongamento da tendência descendente da inflação. Por outras palavras, o mercado espera que a Reserva Federal mantenha os juros próximos dos níveis actuais por mais algum tempo, mas que, no próximo ano, poderá iniciar cortes mais decididos.

Como tal, importa permanecer atento à evolução do discurso dos membros da Reserva Federal norte-americana, de modo a perceber melhor qual a evolução expectável deste indicador. Este tipo de leitura acaba por ser essencial para os diversos participantes de mercado, em particular, dado que a trajectória futura das taxas de juro impacta as avaliações de diversas classes de activos, das obrigações às acções, passando pelas divisas ou imobiliário. Embora o caminho até ao final de 2026 ainda esteja longe de ser definitivo, o consenso de mercado, representado neste gráfico, já abre a porta a algumas leituras.

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