
Num mundo em acelerada transformação tecnológica e energética, as terras raras desempenham um papel vital. Este grupo de 17 elementos químicos inclui alguns metais fundamentais para uma ampla variedade de produtos modernos, de smartphones e turbinas eólicas a sistemas de mísseis e satélites. Apesar de estarem relativamente presentes na crosta terrestre, estes metais raramente são encontrados em concentrações economicamente viáveis e a sua extracção e separação requerem processos altamente especializados e dispendiosos.
O Desafio de Abastecimento de Terras Raras
A crescente procura por dispositivos electrónicos, energia renovável, veículos eléctricos e ferramentas militares sofisticadas fez disparar o consumo global de terras raras. No entanto, a produção destes metais encontra-se fortemente concentrada, criando dependências geopolíticas significativas.
Figura 1 – Distribuição do Consumo Global de Terras Raras, por Utilização Final (2022)
Fonte: Natural Resources Canada
A China domina o sector, sendo responsável por cerca de 60% da produção mundial de terras raras e por quase 90% da capacidade de refinação. Esta posição resulta de décadas de investimento estratégico, controlo estatal e incentivos à indústria doméstica, factores que conferem ao país uma vantagem praticamente inigualável.
Figura 2 – Evolução da Produção de Terras Raras, por País (2024)
Fonte: Bloomberg, US Geological Survey
Ao contrário do que o nome possa sugerir, as terras raras não são escassas em termos absolutos, mas o processo de as tornar utilizáveis é extremamente complexo. A separação dos elementos exige múltiplas fases de lixiviação, troca iónica e extracção por solventes, muitas vezes com impactos ambientais significativos. A China assumiu este papel que muitos países preferiram evitar e, em troca, passou a controlar uma cadeia de fornecimento crítica para a economia mundial.
Uma Nova Arma Geopolítica
Nos últimos anos, estes metais assumiram uma importância ainda maior à medida que as tensões comerciais e estratégicas entre a China e os Estados Unidos se intensificam. Pequim tem usado as terras raras como instrumento de pressão tendo, em Julho de 2023, acrescentado sete destes metais à sua lista de controlo de exportações, numa resposta directa às sanções e tarifas norte-americanas.
Trata-se de uma estratégia já conhecida: em 2010, a China suspendeu temporariamente o fornecimento de terras raras ao Japão, durante uma disputa territorial, provocando disrupções severas na indústria tecnológica global e uma escalada dos preços no mercado internacional. O episódio serviu de alerta para a fragilidade das cadeias de abastecimento e a importância crescente destes elementos como activos de poder geoeconómico.
Com as principais economias a acelerar planos de transição energética e reindustrialização tecnológica, a procura por terras raras deverá continuar a crescer, elevando ainda mais o seu peso estratégico. Contudo, a actual concentração do fornecimento levanta questões críticas sobre segurança, sustentabilidade e equilíbrio geopolítico. Este fenómeno torna-se ainda mais preocupante à luz das crescentes tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, marcadas por sucessivas rondas de tarifas. Perante a rivalidade comercial crescente que marca a relação sino-americana, a concentração de fornecimento pode ser instrumentalizada como arma de pressão política ou económica, comprometendo a estabilidade global e causando alguma disrupção na produção de diversos equipamentos essenciais.